Nasci numa casa onde
Cozinhávamos sonhos
Em panelas fumegantes
E fornos linguantes
e a lenha e o meu peito ardiam lentamente
na antecipação
Nasci numa casa onde
Dizíamos inverdades
Vivíamos felicidades plásticas
pré-instaladas no chip cerebral
Enquanto lambíamos os dedos
Da geleia e compotas que escorriam
pelos braços até aos cotovelos
em gargalhadas estridentes como convinha para parecer feliz
Meio kilo de farinha
Duas colheres de gema
Pitada de canela
E irrealidade q.b.